tag:blogger.com,1999:blog-46975744612614827592024-03-19T04:10:53.321-07:00Outras ÁguasLÍVIA NATÁLIAhttp://www.blogger.com/profile/07940271326009242072noreply@blogger.comBlogger82125tag:blogger.com,1999:blog-4697574461261482759.post-10297104832936430942013-09-17T17:46:00.001-07:002013-09-17T17:46:54.882-07:00Sometimes <br /><br /><br />Às vezes é um vento mais forte<br />e ele vem de longe, tangendo as colinas<br />E as tardes se emancipam de mim,<br />como se fossem feitas de puro desejo.<br /><br />Um azul intenso devora meus dedos<br />e os olhos, inteiros, são de oceano e vão<br />e eu estou perdida: não há portas<br />mas as chaves persistem, <br />pendendo de minhas mãos.<br /><br />Um vento que me fala em uma outra língua<br />e, ainda assim, toda me devora,<br />e não há apelo,<br />e não há distância que o coloque de volta:<br />entra pelos meus cabelos<br />e faz deles sua mais perfeita morada.<br /><br />Um vento, e eu de todo exilada.<br />Um vento, e eu desfeita,<br />calada.<br />Um vento, e, pobre de mim,<br />sou toda feita de Água.<br />LÍVIA NATÁLIAhttp://www.blogger.com/profile/07940271326009242072noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4697574461261482759.post-4960117289140547402013-08-13T18:09:00.000-07:002013-08-13T18:09:11.053-07:00<b>Esquecimentos</b><br />
Para minha Mãe<br />
<br />
<br />
Se doer mais um pouco,<br />de minha boca sairão pedras<br />e tochas acessas devorarão minha carne.<br /><br />Se doer só mais um pouco,<br />as palavras brotarão de meus poros<br />e minha boca se demorará em silêncios.<br /><br />Se doer ainda mais,<br />
nascerá um sangue bruto entre meus dentes<br />
<br />
e meu útero perderá seus segredos de vazio.<br />LÍVIA NATÁLIAhttp://www.blogger.com/profile/07940271326009242072noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4697574461261482759.post-42629105869165702502013-08-02T05:25:00.000-07:002013-08-02T05:25:09.640-07:00 Canteiros<br />
Para Ailton Pinheiro<br />
<br />
<br />
Mora no meu entrepernas sua rosa mais absoluta.<br />
Aquela que perfuma as madrugadas no teu jardim.<br />
jardineiro delicado que és,<br />
rega, com o doce dos lábios, minhas pétalas,<br />
toca meus talos com seus dedos de ouro<br />
e se alimenta de meu néctar.<br />
<br />
Dança, no meu corpo, sua bandeira intranquila,<br />
me lanham seus dentes<br />
e o longo crespo de seus cabelos.<br />
<br />
Na noite que fazemos do dia para nossos corpos,<br />
moram silêncios que só você colheu.<br />
Graças às mãos abençoadas de meu jardineiro, <br />
desabrocham flores em minha pele,<br />
e nas dobras de meus cabelos,<br />
e flores proibidas saem desta minha boca.<br />
<br />
<br />
<br />
<br />LÍVIA NATÁLIAhttp://www.blogger.com/profile/07940271326009242072noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4697574461261482759.post-56884457693088275142013-07-19T17:17:00.000-07:002013-07-19T17:17:50.893-07:00Sobre a Poeta<br />
<br />
As pedras que me enfeitam a travessia<br />
entranham seus dentes nos meus pés.<br />
Sangro em silêncio e sem pressa<br />
apenas porque sangrar é minha ciranda,<br />
minha dança feminina,<br />
meu ritual.<br />
<br />
O sal das águas macera meu corpo<br />
e as algas ligeiras persistem em meus cabelos.<br />
Os peixes bebem de minhas lágrimas<br />
enquanto teço mais uma pérola macia.<br />
<br />
Colho espinhos em vez de rosas,<br />
adoeço, durmo a morte das horas,<br />
não sinto fome. Minha saúde vacila<br />
e a palavra não sana o que sangra.<br />
<br />
São três medicamentos e duas refeições diárias,<br />
oito horas de sono e três sessões de fisioterapia,<br />
as contas que devoram os dias,<br />
três quilos que, ainda,<br />
livros que se trançam nos dias,<br />
e a poesia, que não me mata,<br />
mas também não me cura. <br />
<br />
<br />
<br />LÍVIA NATÁLIAhttp://www.blogger.com/profile/07940271326009242072noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4697574461261482759.post-22688546325177463902013-07-19T16:43:00.001-07:002013-07-19T16:43:41.752-07:00<h5 class="uiStreamMessage userContentWrapper" data-ft="{"type":1,"tn":"K"}">
<span class="messageBody" data-ft="{"type":3}"><span class="userContent">Riografias<br /> <br /> Há como se (a)mar a pele qualquer,<br /> Há como se perder nos seixos<br /> quebrar eixos, (a)mar uma gota triste<br /><span class="text_exposed_show"> como quem derivasse num oceano.<br /> <br /> Há quem pense (ar)mar, nas nuvens<br /> algum castelo triste.<br /> <br /> Há.<br /> <br /> Mas o Rio, prenhe de negruras,<br /> ainda perfuma a noite, a juba, o silêncio das correntezas.<br /> O Rio, inolvidável, deixa até nas pedras<br /> o seu rastro.</span></span></span></h5>
LÍVIA NATÁLIAhttp://www.blogger.com/profile/07940271326009242072noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4697574461261482759.post-35395541547850511612013-01-24T07:37:00.001-08:002013-07-19T16:47:43.710-07:00<br />
<div class="MsoNormal">
<b>Desenlace<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O que rima quando finda</div>
<div class="MsoNormal">
é uma cama menos vazia</div>
<div class="MsoNormal">
um luto esbranquiçado</div>
<div class="MsoNormal">
e o sorriso que não pude</div>
<div class="MsoNormal">
te dar na despedida.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O que rima mesmo, </div>
<div class="MsoNormal">
quando tudo se finda</div>
<div class="MsoNormal">
é um retrato perdido,</div>
<div class="MsoNormal">
uma porta fechada para o inútil</div>
<div class="MsoNormal">
e as tramas delicadas das cortinas</div>
<div class="MsoNormal">
desvelando, </div>
<div class="MsoNormal">
no paladar das horas,</div>
<div class="MsoNormal">
aquele instante em que o trinco permanecerá imóvel.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O que rima quando amor finda</div>
<div class="MsoNormal">
é um olhar infinito sobre as correntezas,</div>
<div class="MsoNormal">
e uma banda inteira de armário vazia.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
{E sobejos de insutilezas:</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
um lugar a menos na mesa,</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
menos itens na lista do mercado,</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
economias nas contas mensais...}</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Mas, acima de tudo,</div>
<div class="MsoNormal">
me sobra uma varanda, </div>
<div class="MsoNormal">
por onde vejo o mundo,</div>
<div class="MsoNormal">
e derramo todas as lágrimas</div>
<div class="MsoNormal">
que engulo quieta,</div>
<div class="MsoNormal">
como quem se alimenta de seus próprios ais.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
LN</div>
<div class="MsoNormal">
</div>
LÍVIA NATÁLIAhttp://www.blogger.com/profile/07940271326009242072noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4697574461261482759.post-37142786633643456302012-12-12T18:17:00.000-08:002012-12-12T18:17:38.220-08:00<span class="Apple-style-span" style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 17px;">Aniversário</span><span class="Apple-style-span" style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 17px;"><br /></span><span class="Apple-style-span" style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 17px;"><br /></span><span class="Apple-style-span" style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 17px;">"No tempo em que comemoravam o dia de meus anos</span><span class="Apple-style-span" style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 17px;"><br /></span><span class="Apple-style-span" style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 17px;">eu era feliz e ninguém estava morto"</span><span class="Apple-style-span" style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 17px;"><br /></span><span class="Apple-style-span" style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 17px;">Álvaro de Campos</span><span class="Apple-style-span" style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 17px;"><br /></span><span class="Apple-style-span" style="color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 11px; line-height: 17px;"></span><br />
<div class="text_exposed_show" style="display: inline;">
<br />Tenho alimentado afetos com a parte boa de minhas entranhas,<br />a parte que não sangra tanto,<br />que não se avermelha em dobras.<br /><br />Tenho tentado.<br /><br />E que trabalho pesado este de tentar.<br />Tenho atendido telefonemas no meio da madrugada<br />como se salvasse suicidas,<br />corro andares ofegante de meu respiro<br />para evitar males que desconheço,<br />e o amor não cessa de me impingir sua presença dolorosa.<br /><br />Já o expulsei de casa muitas vezes<br />e ele se esconde no dormente das portas,<br />o amor persiste e o sol escalavra minha pele fina<br />dentro da beleza de cada dia.<br /><br />Tenho alimentado o amor com dedos protegidos de coragem e fé.<br />Mas seus dentes são tão afiados<br />que me ferem no côncavo das cutículas,<br />eles me lanham profundo,<br />e o amor, em mim, não cessa.<br /><br />Tenho medo desta força que não me perdoa<br />nem me salva.<br /><br />O amor tem me feito sangrar dos poros às entranhas,<br />depois,<br />como um perverso,<br />lambe minhas cicatrizes.</div>
LÍVIA NATÁLIAhttp://www.blogger.com/profile/07940271326009242072noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4697574461261482759.post-40482739030144139562012-12-02T18:18:00.003-08:002012-12-02T18:18:15.008-08:00Sobre o Tempo Para Ailton Pinheiro<br />
<br />
Se este vento persistir ainda alguns verões<br />
e a flama acesa ainda banhar a mesa<br />
e dançar nas paredes com suas sombras luminosas,<br />
teremos pão. Teremos corpo,<br />
e algo de um silêncio que não nos corte muito fundo.<br />
Teremos a lâmina com seu fio imperfeito tangendo os tempos.<br />
<br />
Em persistindo o vento sobrelevando as estações<br />
Ainda serão seus cabelos que lamberão minha virilha<br />
e terei seus olhos fechados me tateando no ar.<br />
<br />
Em persistindo,<br />
para além da chuva imensa e do acre que devora o verão<br />
esta alegria descortinada e estes olhos de lágrima e brisa,<br />
mais seremos um para o outro, <br />
e estaremos mergulhados neste entreentranhas que,<br />
quando venta,<br />
somos nós.LÍVIA NATÁLIAhttp://www.blogger.com/profile/07940271326009242072noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4697574461261482759.post-79135673776570617192012-11-01T17:02:00.001-07:002012-11-01T17:02:58.512-07:00VigíliaComo seria enterrar um pai?<br />
<br />
Ter seu falo morto balouçando sobre o corpo grosso.<br />
Seus pés firmados no sem-fim,<br />
Seus dedos bebendo das estrelas,<br />
Suas mãos abrigando o silêncio do peito,<br />
escondendo,<br />
como que temerosas,<br />
o estômago inútil.<br />
Seus olhos abertos para si,<br />
num mergulho profundo no nenhum,<br />
enxergando o inominado?<br />
<br />
Como seria enterrar um pai<br />
com estas minhas mãos de Antígona?<br />
Como seria o meu sepulcro, atrás de uma pedra?<br />
Ser engolida por uma caverna?<br />
<br />
Como seria (eu mesma) morrer?<br />
A resposta brilha simples numa carne sem mistérios:<br />
<br />
Seria,<br />
e certamente seria,<br />
como enterrar o meu pai.LÍVIA NATÁLIAhttp://www.blogger.com/profile/07940271326009242072noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4697574461261482759.post-89618977798026629652012-10-15T17:26:00.000-07:002012-10-15T17:26:09.080-07:00Orisa didê<br />
<br />
Arranca as percatas de seu cavalo<br />
e nele galopa com os pés no chão.<br />
Solta um grito que se espeta no alto<br />
e,<br />
repetido,<br />
saúda a terra com a majestade de sua presença.<br />
<br />Dança sem a calma das horas,<br />
pois seus braços se erguem para fora do tempo.<br />
<br />
Caminha com sua carne de mito<br />
e, quando vai, não parte.<br />
Apenas se banha em seu próprio mistério.LÍVIA NATÁLIAhttp://www.blogger.com/profile/07940271326009242072noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4697574461261482759.post-34345455207139611162012-10-11T21:47:00.000-07:002012-10-11T21:47:44.587-07:00O caso do Vestido<span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt 70.8pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 9pt; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif;">“<em>De
tempo e traça meu vestido me guarda</em>.”<o:p></o:p></span></span></div>
<span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif;">
</span><span style="font-size: 10pt; mso-bidi-font-size: 11.0pt;"><span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif;">Adélia Prado<o:p></o:p></span></span><br />
<span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif;">
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif;">Meu corpo não respeita as estações.</span></div>
<span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif;">
</span><span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif;">Chove grosso em cada dobra da cidade</span><br />
<span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif;">
</span><span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif;">E eu trago comigo um vestido de verão intempestivo.</span><br />
<span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif;">
</span><o:p><span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif;"> </span></o:p><br />
<span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif;">
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif;">Meu corpo não cede e, vivo, arde no ligeiro das rendas,</span></div>
<span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif;">
</span><span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif;">nas maresias que lambem o ar.</span><br />
<span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif;">
</span><span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif;">Meu corpo não cede.</span><br />
<span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif;">
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif;">E o vestido que me desveste neste calor temporão</span></div>
<span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif;">
</span><span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif;">é todo bordado na minha pele:</span><br />
<span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif;">
</span><span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif;">por dentro.</span>LÍVIA NATÁLIAhttp://www.blogger.com/profile/07940271326009242072noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4697574461261482759.post-66214718578588390362012-10-11T21:46:00.000-07:002012-10-11T21:46:56.611-07:00Freudiana IISegurar uma mãe na unha!<br />
Ou nos fios da telefônica<br />
- que filtram sua voz no vazio.<br />
<br />
Prender a mãe,<br />
escalar suas pernas,<br />
premir seu seio macio.<br />
<br />
Comer do corpo da mãe,<br />
lamber seu regaço.<br />
<br />
Devorar a mãe na ausência<br />
nos fios de seus cabelos,<br />
no perfume que colore o ar.<br />
<br />
Devorar a carne da mãe sanando,<br />
com mãos urgentes,<br />
a fome de todos os tempos.<br />
<br />
O desamparo de todos os filhosLÍVIA NATÁLIAhttp://www.blogger.com/profile/07940271326009242072noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4697574461261482759.post-5590646298858822682012-08-08T12:17:00.001-07:002012-08-08T12:17:41.574-07:00<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-size: 14pt; mso-bidi-font-size: 11.0pt;"><span style="font-family: Calibri;">POEMINHAS DE AMOR SEM ENFEITE NENHUM<o:p></o:p></span></span></b></div>
Para A.P.<o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Calibri;">Do despertar<o:p></o:p></span></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Ele acorda sem dar uma só palavra:</span></div>
<span style="font-family: Calibri;">O primeiro caminho de voz é para o Orixá. </span><br />
<span style="font-family: Calibri;">E eu fico posta na cama, tremendamente humana,</span><br />
<span style="font-family: Calibri;">enquanto meu corpo o espera sem calma.</span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Calibri;">Cotidianos<o:p></o:p></span></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Ele tomou para si minha mania de planos e listas.</span></div>
<span style="font-family: Calibri;">Assim, enquanto eu varo madrugadas </span><br />
<span style="font-family: Calibri;">destrançando os fios de seus cabelos</span><br />
<span style="font-family: Calibri;">e bêbada do cheiro de sua pele,</span><br />
<span style="font-family: Calibri;">ele rascunha no ar o roteiro de nossa felicidade.</span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Calibri;">Medo<o:p></o:p></span></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Quando o dia está muito escuro,</span></div>
<span style="font-family: Calibri;">e chove em cada dobra do mundo.</span><br />
<span style="font-family: Calibri;">Ele abraça a minha mão.</span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Calibri;">Segredos<o:p></o:p></span></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: Calibri;">O que partilhamos, multiplicando estrelas no nosso céu,</span></div>
<span style="font-family: Calibri;">não nos divide.</span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Calibri;">Beleza<o:p></o:p></span></b></div>
<br />
<span style="font-family: Calibri;">Meu homem é muito bonito: seu corpo é negro e esguio.</span><br />
<span style="font-family: Calibri;">Seus cabelos perfumosos dançam no seu dorso largo.</span><br />
<span style="font-family: Calibri;">E ainda há os olhos, e sua boca castanha e absoluta.</span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Mas, sob o manto de toda a beleza,</span></div>
<span style="font-family: Calibri;">Há uma camada de boniteza </span><br />
<span style="font-family: Calibri;">Que só eu conheço:</span><br />
<span style="font-family: Calibri;">por que ele mora em mim.<span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 139.4pt;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; tab-stops: 139.4pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Calibri;">Sorriso<o:p></o:p></span></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Algumas flores só os meus olhos recolhem.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Calibri;">Primaveras no lençol<o:p></o:p></span></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Trago flores nos cabelos, dependuradas nas roupas, tatuadas no corpo.</span></div>
<span style="font-family: Calibri;">Mas a flor mais delicada, </span><br />
<span style="font-family: Calibri;">que guardo sob algodões e sedas,</span><br />
<span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>só desbrocha nos lábios de meu
bem.</span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<br /></div>LÍVIA NATÁLIAhttp://www.blogger.com/profile/07940271326009242072noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4697574461261482759.post-40180436617010383902012-07-24T19:53:00.001-07:002012-07-24T19:53:42.382-07:00Um poema em seu nome<br />
<br /> Para Ailton Pinheiro Júnior<br /> <br />
Como chamar este algo <br />que se dobra na dobra de sua orelha,<br />e deixa minhas noites insones<br />enquanto navegamos?<br />
<br />
Seu cheiro que me lambe as narinas,<br />e mora no tecido fino destes travesseiros<br />onde dança sua juba domada<br />como um leão apaziguado em sua morada.<br />
<br />
Este algo que dorme no nosso silêncio,<br />que se move no breu de nossos desejos,<br />algo que se exala na sua presença<br />que ilumina os dias e ofusca o sol?<br />
<br />
Como se chama? <br />
<br />
Como chamar este dia brando que se ergue?<br />
<br />Este gesto, esta voz que canta maresias em meu corpo?<br />
<br />
Não há palavra que abrigue <br />este mundo delicado em que moramos:<br />qualquer nome cede ao vazio,<br />na fibra fina de sua presença.<br />
<br /><br />LÍVIA NATÁLIAhttp://www.blogger.com/profile/07940271326009242072noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4697574461261482759.post-11690024055296404592012-05-23T19:30:00.002-07:002012-05-23T19:30:59.160-07:00Inominado<!--[if gte mso 9]><xml>
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<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 35.4pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-indent: 35.4pt;">
Lívia
Natália</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Algo do que ainda dói é impartilhável.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
A ferida se aprofunda escalavrando os meus véus,</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
a dor me descobre inteira, nos meus guardados mais femininos,</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
e mais humanos.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Eu choro frágil, e ando pelas ruas de olhos inchados.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Mas ninguém percebe, continuo tendo pés de bailarina,</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
e tudo que sangra se esconde sob as cores outras com que desfilo.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Vivo com um silêncio desconsolado que mora nas dobras de meu cabelo,</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Dança nos meus vestidos, nos vincos de minhas mãos.</div>
<div class="MsoNormal">
E ninguém percebe esta ferida que sangra pra dentro. </div>
<div class="MsoNormal">
Apesar da cicatriz.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>LÍVIA NATÁLIAhttp://www.blogger.com/profile/07940271326009242072noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-4697574461261482759.post-47091954764043309002012-03-18T10:10:00.002-07:002012-03-18T10:11:59.234-07:00Freudiana<div class="text_exposed_root text_exposed" id="id_4f6615ed909911c30044454"><br />
No mais fundo dos homens que amo<br />
há meu pai, com sua carne de maresias.<br />
Ele se desenha na pele dos meus homens<br />
como o mar inscreve, no peixe, as escamas.<br />
<br />
(Todo corpo em que derivo absorta<br />
tem algo de sua voz pedregosa.) <br />
<br />
<span class="text_exposed_show">Nas peles negras em que me banho<br />
flutua sua existência de maré:<br />
prenhe de naufrágios.<br />
<br />
Aos pés destes timoneiros delicados<br />
que pensam singrar minhas águas<br />
sou a kianda-sereia, <br />
um coral espelhado,<br />
sou a ostra que se desmora em silêncio.<br />
<br />
Sou a água eternamente translúcida.<br />
Precipício denso de onde estes peixes bebem<br />
- apenas -<br />
um silêncio delicado.<br />
<br />
</span></div>LÍVIA NATÁLIAhttp://www.blogger.com/profile/07940271326009242072noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-4697574461261482759.post-22729518981909358562012-02-23T18:58:00.000-08:002012-02-23T18:58:08.103-08:00Canto para Antonio<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://img.skoob.com.br/livros_new/5/124016/POEMAS_PARA_ANTONIO_1282932758P.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://img.skoob.com.br/livros_new/5/124016/POEMAS_PARA_ANTONIO_1282932758P.jpg" width="177" /></a></div>Relendo o livro de Ângela Vilma, "Poemas para Antonio", não consegui resistir e escrevi o meu poema para Antonio:<br />
<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Canto para Antonio</span></b><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">,<o:p></o:p></span></div><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>Para Ângela Vilma <o:p></o:p></span></div><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Eu te amo, Antonio, e a sombra de seu nome faz rebentar as sutilezas.<o:p></o:p></span></div><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Nada silencia na primavera bravia que se desperta nos meus dentes,<o:p></o:p></span><br />
<br />
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">E pássaros voam famintos em busca de alguma luz.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;"><o:p> </o:p></span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Eu te amo, Antonio, e os vincos de seu rosto lambem minhas madrugadas.<o:p></o:p></span></div><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">A lua se deita nos mares, a água se tinge de negro <o:p></o:p></span><br />
<br />
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">e tudo resvala no cobalto das maresias.<o:p></o:p></span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Eu te amo Antonio, e me mergulho nos poros vermelhos de tua língua,<o:p></o:p></span></div><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Me embrenho nas matas de seus cabelos crespos,<o:p></o:p></span><br />
<br />
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Caçando as esperas caracoladas de sua demora.<o:p></o:p></span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Eu te amo, Antonio,<o:p></o:p></span></div><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">e nada apazigua esta sede que é a tua véspera.<o:p></o:p></span>LÍVIA NATÁLIAhttp://www.blogger.com/profile/07940271326009242072noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4697574461261482759.post-37839852491043939342012-02-14T15:19:00.001-08:002012-02-14T15:27:58.602-08:00Do desejo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPkXOrXYNMYovSSoMX8Va9ESt7MrciDoEdkOjnpjlZO14Xf9MZgD_NYw_4leUi4q0vq7qzXZVi8AmQReNjalfaJ-mVkGsiY-LPqJswEkw_N6pulav0uMS6HA-iBXerrRxgQhVhDvMtiauT/s1600/2012-02-14+18.52.50.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="192" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgPkXOrXYNMYovSSoMX8Va9ESt7MrciDoEdkOjnpjlZO14Xf9MZgD_NYw_4leUi4q0vq7qzXZVi8AmQReNjalfaJ-mVkGsiY-LPqJswEkw_N6pulav0uMS6HA-iBXerrRxgQhVhDvMtiauT/s320/2012-02-14+18.52.50.jpg" width="320" /></a></div><div style="text-align: right;"><strong>Porque há desejo em mim</strong></div><div style="text-align: right;"><strong>tudo é cintilância</strong></div><div style="text-align: right;"> <em>Hilda Hilst</em></div><br />
Alguns poemas não podem ser escritos.<br />
Posto que os escrevo com a tinta da vida,<br />
com o sangue dos dias,<br />
e não posso sangrar certos mares.<br />
<br />
Resta-me dizer da violência do sol<br />
lambendo as bordas das nuvens.<br />
Falar de minha alma sedenta de luz<br />
e rasgar a pele das páginas,<br />
maculando o branco resoluto.<br />
<br />
Tudo é desejo e cintilância.<br />
E a vida corre macia<br />
como tua língua,<br />
nas minhas coxas.LÍVIA NATÁLIAhttp://www.blogger.com/profile/07940271326009242072noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-4697574461261482759.post-39616052713052288522012-01-16T15:25:00.000-08:002012-01-16T15:25:37.828-08:00Negridianos Para Cuti, Limeira e Guellwaar Adún<br />
<br />
Há uma linha invisível,<br />
lusco-fusco furioso dividindo as correntezas.<br />
Algo que distingue meu pretume de sua carne alva<br />
num mapa onde não tenho territórios.<br />
<br />
Minha negritude caminha nos sobejos,<br />
nos opacos por onde sua luz não anda,<br />
e a linha se impõe poderosa,<br />
oprimindo minha alma negra, <br />
crespa de dobras.<br />
<br />
Há um negridiano meridiando nossas vidas,<br />
ceifando-as no meio incerto,<br />
a linha é invisível mesmo:<br />
mas nas costas ardem,<br />
em trilhos rubros,<br />
a rota-lâmina destas linhas absurdas que desenhas<br />
enquanto eu não as enxergo.LÍVIA NATÁLIAhttp://www.blogger.com/profile/07940271326009242072noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4697574461261482759.post-84874146520014372202011-12-20T17:13:00.000-08:002011-12-20T17:13:41.955-08:00Abandono Para meu pai<br />
<br />
Meu amor tem os dentes cariados,<br />
transpira por todos os poros,<br />
paga poucas contas<br />
e será despejado.<br />
<br />
Meu amor criou barriga <br />
e anda arqueado.<br />
<br />
(Arrumou uma amante na esquina,<br />
agora nos vemos pouco.)<br />
<br />
Meu amor chega atrasado,<br />
ou nem chega:<br />
todos os barcos ancoram,<br />
mas meu amor se demora.<br />
<br />
Piratas lhe irromperam a rota?<br />
Nereides o beijaram perfumosas?<br />
O mar, com seus cabelos, o trançou?<br />
<br />
Enquanto espero, tudo é horizonte<br />
e adivinho seu rosto antigo<br />
na anatomia das pedras.LÍVIA NATÁLIAhttp://www.blogger.com/profile/07940271326009242072noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4697574461261482759.post-46705419100773665392011-11-20T14:43:00.001-08:002011-11-20T15:05:36.894-08:00Poema-ebó (pelo 20 de Novembro)<span class="messageBody" data-ft="{"type":3}"></span><br />
<div class="text_exposed_root text_exposed">Dono das encruzilhadas, <br />
morador das soleiras das portas de minha vida,</div><div class="text_exposed_root text_exposed"><span class="text_exposed_show">Falo alto que sombreia o sol:<br />
Exu!<br />
<br />
Domine as esquinas que dobram <br />
o corpo negro do meu povo!</span><br />
<span class="text_exposed_show">Derrama sobre nós seu epô perfumado,<br />
nos banha na sua farofa <br />
sobre o alguidá da vida!<br />
<br />
Defuma nossos caminhos</span><br />
<span class="text_exposed_show">com sua fumaça encantada.<br />
Brinca com nossos inimigos,<br />
impede, confunde, cega<br />
os olhos que mau nos vêem.<br />
<br />
Exu!<br />
<br />
Menino amado dos Orixás,<br />
dou-te este poema em oferenda.<br />
Ponho no teu assentamento <br />
este ebó de palavras!<br />
<br />
Tu que habitas na porteira de minha vida,<br />
seja por mim!<br />
seja pelos meus irmãos negros<br />
filhos de tua pele ébano!<br />
Nós, que carregamos no corpo escuro <br />
os mistérios de nossas divindades,<br />
te vemos espelhado nos nossos cabelos de carapinha,<br />
nos traços fortes de nossas faces,<br />
na nossa alma azeviche!<br />
<br />
Mora na porteira de nossa vida, <br />
Exu!<br />
Vai na frente trançando as pernas dos inimigos.<br />
Nos olhe de frente e de costas!<br />
<br />
Seja para nós o que Zumbi foi em Palmares:<br />
Nos Liberta, Exu,<br />
Laroiê!</span></div>LÍVIA NATÁLIAhttp://www.blogger.com/profile/07940271326009242072noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4697574461261482759.post-52750818472405579662011-11-11T17:10:00.000-08:002011-11-11T17:12:24.223-08:00Onde o espelho? <strong> Para minhas irmãs negras</strong><br />
<br />
Este cabelo que lhe vai liso sobre a carapinha, <br />
é o simulacro infeliz do que não és.<br />
<br />
(Ao vestir-se com a pele do inimigo<br />
o que de ti silencia e se perde?<br />
Quantos animais conheces<br />
que assim o fazem senão para reagir?)<br />
<br />
Este cabelo pesa desfeito sobre sua carapinha.<br />
Veste-a como um manto impuro<br />
abafando o preto caracolado<br />
sobresi dobrado:<br />
filosófico.<br />
<br />
Os fios se endurecem como cavalos açoitados,<br />
e bradam da morbidez desta couraça<br />
que te mascara branca.<br />
<br />
Este cabelo requeimado e grotesco<br />
sepulta o que em ti há de mais belo.<br />
A dobra também é uma forma<br />
de Ser.LÍVIA NATÁLIAhttp://www.blogger.com/profile/07940271326009242072noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4697574461261482759.post-11117834769240586512011-11-08T04:15:00.000-08:002011-11-08T04:18:17.582-08:00Poema inédito<em><strong>Oração </strong></em><br />
<br />
<em>Se um dia deste meu ventre</em><br />
<em>brotarem árvores-filhos</em><br />
<em>que sejam fortes como os livros</em><br />
<em>a que tanto amo.</em><br />
<br />
<em>Que eu possa morar </em><br />
<em>nas dobras de suas páginas</em><br />
<em>e me escrever nas suas margens, </em><br />
<em>(como num rio)</em><br />
<em>que eu mergulhe em suas sendas minúsculas,</em><br />
<em>como nas entranhas das palavras.</em><br />
<br />
<em>Que meus filhos me amem,</em><br />
<em>como meus livros</em><br />
<em>e que não fiquem apriosionados </em><br />
<em>nas minhas estantes!</em><br />
<br />
<em>Que mais que páginas</em><br />
<em>tenham pés e asas,</em><br />
<em>que voem brutos </em><br />
<em>desenhando sombras nos céus.</em><br />
<br />
<em>Que meus filhos possam olhar meus retratos</em><br />
<em>e que possam ver, </em><br />
<em>para além da beleza possível,</em><br />
<em>os olhos da mãe improvável.</em><br />
<br />
<em>Que deste ventre nasçam</em><br />
<em>mais que filhos-palavras,</em><br />
<em>corpos carne e sangue </em><br />
<em>donos de minha mais profunda </em><br />
<em>e ineludível substância.</em>LÍVIA NATÁLIAhttp://www.blogger.com/profile/07940271326009242072noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4697574461261482759.post-91280012721306219792011-11-08T04:01:00.000-08:002011-11-08T04:01:02.252-08:00Água Negra<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-line-height-alt: 5.0pt;"><span style="font-family: "Arial", "sans-serif"; font-size: 15pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Chove muito na cidade.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-line-height-alt: 5.0pt;"><span style="font-family: "Arial", "sans-serif"; font-size: 15pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">No asfalto betumoso um sangue transparente,</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-line-height-alt: 5.0pt;"><span style="font-family: "Arial", "sans-serif"; font-size: 15pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">ora de um rubro desencarnado,</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-line-height-alt: 5.0pt;"><span style="font-family: "Arial", "sans-serif"; font-size: 15pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">ora encardido de um cinza nebuloso,</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-line-height-alt: 5.0pt;"><span style="font-family: "Arial", "sans-serif"; font-size: 15pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">é vomitado em cólicas</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-line-height-alt: 5.0pt;"><span style="font-family: "Arial", "sans-serif"; font-size: 15pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">por toda a parte.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-line-height-alt: 5.0pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-line-height-alt: 5.0pt;"><span style="font-family: "Arial", "sans-serif"; font-size: 15pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">Das paredes duras vaza um mais escuro que,</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-line-height-alt: 5.0pt;"><span style="font-family: "Arial", "sans-serif"; font-size: 15pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">imagino,</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-line-height-alt: 5.0pt;"><span style="font-family: "Arial", "sans-serif"; font-size: 15pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">seja a água mordendo as estruturas.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-line-height-alt: 5.0pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-line-height-alt: 5.0pt;"><span style="font-family: "Arial", "sans-serif"; font-size: 15pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">A água é assim:</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-line-height-alt: 5.0pt;"><span style="font-family: "Arial", "sans-serif"; font-size: 15pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">atiçada do céu,</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-line-height-alt: 5.0pt;"><span style="font-family: "Arial", "sans-serif"; font-size: 15pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">infinita no mar,</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-line-height-alt: 5.0pt;"><span style="font-family: "Arial", "sans-serif"; font-size: 15pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">nômade no chão pedregoso,</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-line-height-alt: 5.0pt;"><span style="font-family: "Arial", "sans-serif"; font-size: 15pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">presa no fundo de um poço imenso:</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-line-height-alt: 5.0pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-line-height-alt: 5.0pt;"><span style="font-family: "Arial", "sans-serif"; font-size: 15pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">a água devora tudo</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; mso-line-height-alt: 5.0pt;"><span style="font-family: "Arial", "sans-serif"; font-size: 15pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman";">com seus dentes intangíveis.</span></div>LÍVIA NATÁLIAhttp://www.blogger.com/profile/07940271326009242072noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4697574461261482759.post-32555778384354993362011-10-31T11:51:00.000-07:002011-10-31T11:51:03.018-07:00Água Negra na Bienal do Livro!Amanhã, <strong>Água Negra</strong> em lançamento na Bienal do Livro, no stand da Fundação Pedro Calmon!!!<br />
<a href="http://www.bienaldolivrodabahia.com.br/programacao_cultural/fundacao">http://www.bienaldolivrodabahia.com.br/programacao_cultural/fundacao</a><br />
Espero vocês lá!<br />
<br />
Um abraço!!!LÍVIA NATÁLIAhttp://www.blogger.com/profile/07940271326009242072noreply@blogger.com0