sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Vista a minha pele

Cena:

Vou ao SAC-Shopping Barra fazer a segunda via de meu título de eleitor. Sento e sou atendida por um senhor macilento, que "batia" ao computador as teclas uma-a-uma, len...ta...men...te.

Ele me olha de um jeito estranho, me trata de maneira um pouco licenciosa: me chama de "você".

Tento não me importar.

Após perguntar pelo meu endereço, telefone e outros dados pessoais ele indaga:

"- Você estudou até que série? Você não terminou o segundo grau, não foi?"

E complementou, sem me dar chance de responder: "Parou quando?"




E, por incrível que pareça, algumas pessoas ainda podem me dizer isso é por causa de minha cara ou idade...

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Onde cintilam outras luzes


Para o Bem de Cacau.




Quando alguém morre não é apenas uma estrela brilhante que se finda. É um por vir que se acinzenta, esmaece e, no entanto, permanece suspenso no ar, como uma promessa, uma profecia não cumprida.




Nascemos mesmo para brilhar, mas morremos de fome sempre. E, em cada um de nós, a fome rói partes inteiras de tecidos cariados, e cada dor se encena numa tela inconsútil, numa exibição única, numa eterna estréia onde cada cena nos assalta e surpreende, não pela sua face estranha, mas pela convivência que com ela tínhamos, antes delicada.




E a pergunta que vem, inevitável é: Por que dói tanto?




E nunca importa se é a unha encravada da solidão, a dor de estômago do silêncio ou a dor de dente da espera. Sempre dói demais, e sempre é tudo muito pesado e sempre a força se revela (n)o seu contrário.




Hoje soube de uma morte. Morreu alguém que não conheci, mas vivi a felicidade de sua existência e o desamparo de seu desaparecimento.




Não há como não crer, diante disso, que esse céu vazado de estrelas que daqui vejo é apenas a máscara mal-disfarçada, de uma carne celeste outra, onde matérias iluminadas vão cintilar, agora, para sempre.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Dois mil e nove


Pois é...


Faz tempo.


É que este ano, dois mil e nove, chegou tão violento, colocando as coisas nos lugares, desarrumando outras, que tudo ficou esparramado pelas Matas, nas beiras dos Rios, espalhado no Vento.
(muita coisa que até então era importante)


Oxóssi, neste ano que é dele, entrou na minha vida violento, fazendo de meus olhos duas flechas, me dando foco, afiando minha atenção, minhas exigências...


Mas a vida, e as coisas que enfeitam, por cima, a vida, corre macia e despreocupada, feito puta nova e vocacionada.