quarta-feira, 17 de março de 2010

Ir

                                    LCDias, Imagem Pública



Arrumar as malas. Comprar bilhetes. Entrar num taxi, avião, num ônibus, num trem solar e ir,definitiva, para longe. Ir é também não estar. Reconhecer o ficar como um falo triste. Ir é não se encontrar nas ruas, não gostar das pessoas, não refletir sobre o caminhar macio pela estrada aberta. Quando se converte em desejo só, ir é lançar um olhar invejoso sobre o vento que sacode o mundo e vai. Odiar a estrada e as nuvens, chão outro onde planam os grandes aviões: mais pesados que você e que, inda assim, voam. Ser, estar, ficar, permanecer e continuar, principalmente este último, assassino das possibilidades, todos são verbos de ligação com a infelicidade. Uma porta aberta que não dá saída, um blues redundantemente triste como trilha sonora do mundo, um não reconhecer as pessoas e não gostar delas, porque elas podem ir, e você não.

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