Chove muito na cidade.
No asfalto betumoso
um sangue transparente,
ora de um rubro desencarnado,
ora encardido de um cinza nebuloso,
é vomitado em cólicas
por toda a parte.
Das paredes duras vaza um mais escuro que,
imagino,
seja a água mordendo as estruturas.
A água é assim:
atiçada do céu,
infinita no mar,
nômade no chão pedregoso,
presa no fundo de um poço imenso:
a água devora tudo
com seus dentes intangíveis.
* Poema-título do livro
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