sexta-feira, 19 de julho de 2013

Sobre a Poeta

As pedras que me enfeitam a travessia
entranham seus dentes nos meus pés.
Sangro em silêncio e sem pressa
apenas porque sangrar é minha ciranda,
minha dança feminina,
meu ritual.

O sal das águas macera meu corpo
e as algas ligeiras persistem em meus cabelos.
Os peixes bebem de minhas lágrimas
enquanto teço mais uma pérola macia.

Colho espinhos em vez de rosas,
adoeço, durmo a morte das horas,
não sinto fome. Minha saúde vacila
e a palavra não sana o que sangra.

São três medicamentos e duas refeições diárias,
oito horas de sono e três sessões de fisioterapia,
as contas que devoram os dias,
três quilos que, ainda,
livros que se trançam nos dias,
e a poesia, que não me mata,
mas também não me cura.



Riografias

Há como se (a)mar a pele qualquer,
Há como se perder nos seixos
quebrar eixos, (a)mar uma gota triste
como quem derivasse num oceano.

Há quem pense (ar)mar, nas nuvens
algum castelo triste.

Há.

Mas o Rio, prenhe de negruras,
ainda perfuma a noite, a juba, o silêncio das correntezas.
O Rio, inolvidável, deixa até nas pedras
o seu rastro.