No mais fundo dos homens que amo
há meu pai, com sua carne de maresias.
Ele se desenha na pele dos meus homens
como o mar inscreve, no peixe, as escamas.
(Todo corpo em que derivo absorta
tem algo de sua voz pedregosa.)
Nas peles negras em que me banho
flutua sua existência de maré:
prenhe de naufrágios.
Aos pés destes timoneiros delicados
que pensam singrar minhas águas
sou a kianda-sereia,
um coral espelhado,
sou a ostra que se desmora em silêncio.
Sou a água eternamente translúcida.
Precipício denso de onde estes peixes bebem
- apenas -
um silêncio delicado.
sempre continuamente bela sua poesia
ResponderExcluirUma declaração de amor belíssima!
ResponderExcluirObrigada Aeronauta e Thai. Acho que este poema abarca a todas nós, mulheres.
ResponderExcluirUm beijo!
[da palavra que se refaz recipiente das águas,
ResponderExcluirplacentas, das nuvens, dos rios sem margem
águas tantas e barrentas, de tanto mar,
de tanto que nos banham, nessa imensidão
de mar e coração esperanto.]
um imenso abraço, Lívia
Leonardo B.
Estou lendo o seu livro. Seu doce e belo livro...
ResponderExcluirNão consegui manter uma ordem, de forma que já li o final e o início e já reli alguns inteiros e outras tantas linhas...
As águas me têm transbordado. Vez em quando eu paro e volto. Bóio - não sei nadar, salvo em rasas. E as suas águas são profundas...
Sinto-me encantada... como num ritual sagrado de batismo.
De todas as coisas que eu sou, a que mais sou de todas é negra. Como água... mas eu só sei ser, e lamento... Lamento não ter aprendido direito a dizer quase nada sobre isto.
Estou em luta constante para aprender a me defender desde que percebi que negra é tudo o que sou e que o mais, todo o resto cresceu ao redor disto. Seu livro está ajudando.
Faz algum tempo, desde que decidi me descobrir, que venho sendo alvo de ataques constantes. Estranhos, conhecidos e até amigos! A minha guarda anda sempre vigilante - não que eu queira, mas porque dói mais ser atingida. E eu, sempre que posso, não permito.
Não quero ferir, só ser. Disso não entendem. "A gente só pode ser aquilo que é." (Sobral, Cristiane)- Estou lendo também. Preciso muito ler, tenho sede! Andei por muitos anos sobre terras ressequidas... E quero agora aprender a mergulhar. Quero ver para além da superfície.
Beijos,
Sueli Belmonte.
maravilhoso...
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