Antes de chegar e penetrar matreiras nas asas calmas das letras, as palavras que vou escrever me cercam.
Preenchem a língua simples com que vou à padaria, fermentam dos pães, os afetos e os silêncios. Exaltam as ruas de ladrilhos vazados, lambem as dobras calmas onde dormem os mendigos, seus irmãos. Ladram pela rua cinza, pelo escuro das curvas e mastigam, calmas como as ondas, as pedras caladas com seus veios repisados.
Há sempre um ponto iluminado de areias lavadas, um espaço translúcido onde repousa o silêncio que mora em mim no antes, onde as palavras vivem a véspera, que é sempre, enquanto não se dão, generosas, ao olhar do alheio.
Na véspera, as palavras anunciam sua chegada com o sufocante cheiro das frutas maduras.
E o silêncio, vivo nas noites de rebrilhante insônia e de idéias impacientes sentadas na ponta dos lençóis, se recolhe em enxoval completo.
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