O olho de Deus flutua estranho entre as nuvens calmas. Deus sofre, certamente, de uma insônia crônica de olhos às veias transbordantes de sangue, como rios incontidos.
Ele não ressona desfeito de Si, Ele nem cochila. Eu, que durmo atirada ao precipício dos tranquilizantes que me dão sonhos intranquilos, tenho inveja de Deus. Ia dizer que tenho pena, mas também tenho inveja.
Tenho inveja deste sonho feio Seu, vivido na lucidez da luz acesa.
Tenho pena dos Seus olhos de tudo ver, olhos embotados de tanto enxergar.
Tenho inveja e tenho pena.
Hoje, quando acordei de pesadelos estranhos que dançaram ensandecidos no palco cerrado de minhas pálpebras obsedadas, pensei neste Deus que não pode dormir.
Hoje O acolheria dolente nos meus braços, ele apequenado, cansado, eu, sua enfermeira caridosa, lhe ministraria remédios que lhe fechariam os olhos e lhe diria que, independente de sua insone vigília, o mundo continuaria a rodar torto como um pião mal-enrolado.
E ele, finalmente, dormiria com os anjos, do céu e do inferno, dizendo Amém.
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