Meu avô conhecia dos ventos que traziam marés de farta felicidade. Dentro das ondas, cortes prateados de pura cintilância viva. Ele sabia costurar sua rede de náilon fino, apesar dos ventos fortes, e guiar o saveiro imenso na brisa dolente. Certa vez, os homens ficaram todos perdidos no labirinto escuro de vento e mistério, com o barulho de água e espumas por cima. Na noite, que já se disfarçara de bordas de mar e de horizonte, o vento frio de cristalino gume lhes cortava os braços e cozinhava calmamente as locas de seus narizes. A chegada da manhã trouxe o puro horizonte marinho. Quem costurou o retorno na asa mansa do vento foi meu avô.
Pouco me ficou de seu sangue Português de navegar constante. Longe o homem, longe o nome, longe o mar de ventura, lacrimoso e salgado, estou eu, sem fio de náilon, bússola de estrelas ou vento que me leve ao meu favor, estou perdida, no silêncio das ondas mortas, numa rota que é pura deriva.
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