Para minhas irmãs negras
Este cabelo que lhe vai liso sobre a carapinha,
é o simulacro infeliz do que não és.
(Ao vestir-se com a pele do inimigo
o que de ti silencia e se perde?
Quantos animais conheces
que assim o fazem senão para reagir?)
Este cabelo pesa desfeito sobre sua carapinha.
Veste-a como um manto impuro
abafando o preto caracolado
sobresi dobrado:
filosófico.
Os fios se endurecem como cavalos açoitados,
e bradam da morbidez desta couraça
que te mascara branca.
Este cabelo requeimado e grotesco
sepulta o que em ti há de mais belo.
A dobra também é uma forma
de Ser.
Quando meu amor lava o cabelo
ResponderExcluirA negra deixa-me em transe;
É tanto produto no ritual,
Tanta essência escorre
Daquela cascata resistente.
Ao final sou a oferenda
Para a deusa que ela evoca
Desde as raízes capilares da sua história,
Da sua fé nas gerações...
A piastra importa a lembrança do ferro quente
Que marcou, aprisionou e aqueceu a gente;
Desliza-o no pelo, quizombando,
Quando na pele, antes, ardia.
Era um inferno.
Quando minha negra lava o cabelo
É um dia perdido?
-Que ódio?
-Oh dia divino!
-Oh dia eterno!