Para meu pai
Meu amor tem os dentes cariados,
transpira por todos os poros,
paga poucas contas
e será despejado.
Meu amor criou barriga
e anda arqueado.
(Arrumou uma amante na esquina,
agora nos vemos pouco.)
Meu amor chega atrasado,
ou nem chega:
todos os barcos ancoram,
mas meu amor se demora.
Piratas lhe irromperam a rota?
Nereides o beijaram perfumosas?
O mar, com seus cabelos, o trançou?
Enquanto espero, tudo é horizonte
e adivinho seu rosto antigo
na anatomia das pedras.
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
domingo, 20 de novembro de 2011
Poema-ebó (pelo 20 de Novembro)
Dono das encruzilhadas,
morador das soleiras das portas de minha vida,
morador das soleiras das portas de minha vida,
Falo alto que sombreia o sol:
Exu!
Domine as esquinas que dobram
o corpo negro do meu povo!
Derrama sobre nós seu epô perfumado,
nos banha na sua farofa
sobre o alguidá da vida!
Defuma nossos caminhos
com sua fumaça encantada.
Brinca com nossos inimigos,
impede, confunde, cega
os olhos que mau nos vêem.
Exu!
Menino amado dos Orixás,
dou-te este poema em oferenda.
Ponho no teu assentamento
este ebó de palavras!
Tu que habitas na porteira de minha vida,
seja por mim!
seja pelos meus irmãos negros
filhos de tua pele ébano!
Nós, que carregamos no corpo escuro
os mistérios de nossas divindades,
te vemos espelhado nos nossos cabelos de carapinha,
nos traços fortes de nossas faces,
na nossa alma azeviche!
Mora na porteira de nossa vida,
Exu!
Vai na frente trançando as pernas dos inimigos.
Nos olhe de frente e de costas!
Seja para nós o que Zumbi foi em Palmares:
Nos Liberta, Exu,
Laroiê!
Exu!
Domine as esquinas que dobram
o corpo negro do meu povo!
Derrama sobre nós seu epô perfumado,
nos banha na sua farofa
sobre o alguidá da vida!
Defuma nossos caminhos
com sua fumaça encantada.
Brinca com nossos inimigos,
impede, confunde, cega
os olhos que mau nos vêem.
Exu!
Menino amado dos Orixás,
dou-te este poema em oferenda.
Ponho no teu assentamento
este ebó de palavras!
Tu que habitas na porteira de minha vida,
seja por mim!
seja pelos meus irmãos negros
filhos de tua pele ébano!
Nós, que carregamos no corpo escuro
os mistérios de nossas divindades,
te vemos espelhado nos nossos cabelos de carapinha,
nos traços fortes de nossas faces,
na nossa alma azeviche!
Mora na porteira de nossa vida,
Exu!
Vai na frente trançando as pernas dos inimigos.
Nos olhe de frente e de costas!
Seja para nós o que Zumbi foi em Palmares:
Nos Liberta, Exu,
Laroiê!
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
Onde o espelho?
Para minhas irmãs negras
Este cabelo que lhe vai liso sobre a carapinha,
é o simulacro infeliz do que não és.
(Ao vestir-se com a pele do inimigo
o que de ti silencia e se perde?
Quantos animais conheces
que assim o fazem senão para reagir?)
Este cabelo pesa desfeito sobre sua carapinha.
Veste-a como um manto impuro
abafando o preto caracolado
sobresi dobrado:
filosófico.
Os fios se endurecem como cavalos açoitados,
e bradam da morbidez desta couraça
que te mascara branca.
Este cabelo requeimado e grotesco
sepulta o que em ti há de mais belo.
A dobra também é uma forma
de Ser.
Este cabelo que lhe vai liso sobre a carapinha,
é o simulacro infeliz do que não és.
(Ao vestir-se com a pele do inimigo
o que de ti silencia e se perde?
Quantos animais conheces
que assim o fazem senão para reagir?)
Este cabelo pesa desfeito sobre sua carapinha.
Veste-a como um manto impuro
abafando o preto caracolado
sobresi dobrado:
filosófico.
Os fios se endurecem como cavalos açoitados,
e bradam da morbidez desta couraça
que te mascara branca.
Este cabelo requeimado e grotesco
sepulta o que em ti há de mais belo.
A dobra também é uma forma
de Ser.
terça-feira, 8 de novembro de 2011
Poema inédito
Oração
Se um dia deste meu ventre
brotarem árvores-filhos
que sejam fortes como os livros
a que tanto amo.
Que eu possa morar
nas dobras de suas páginas
e me escrever nas suas margens,
(como num rio)
que eu mergulhe em suas sendas minúsculas,
como nas entranhas das palavras.
Que meus filhos me amem,
como meus livros
e que não fiquem apriosionados
nas minhas estantes!
Que mais que páginas
tenham pés e asas,
que voem brutos
desenhando sombras nos céus.
Que meus filhos possam olhar meus retratos
e que possam ver,
para além da beleza possível,
os olhos da mãe improvável.
Que deste ventre nasçam
mais que filhos-palavras,
corpos carne e sangue
donos de minha mais profunda
e ineludível substância.
Se um dia deste meu ventre
brotarem árvores-filhos
que sejam fortes como os livros
a que tanto amo.
Que eu possa morar
nas dobras de suas páginas
e me escrever nas suas margens,
(como num rio)
que eu mergulhe em suas sendas minúsculas,
como nas entranhas das palavras.
Que meus filhos me amem,
como meus livros
e que não fiquem apriosionados
nas minhas estantes!
Que mais que páginas
tenham pés e asas,
que voem brutos
desenhando sombras nos céus.
Que meus filhos possam olhar meus retratos
e que possam ver,
para além da beleza possível,
os olhos da mãe improvável.
Que deste ventre nasçam
mais que filhos-palavras,
corpos carne e sangue
donos de minha mais profunda
e ineludível substância.
Água Negra
Chove muito na cidade.
No asfalto betumoso um sangue transparente,
ora de um rubro desencarnado,
ora encardido de um cinza nebuloso,
é vomitado em cólicas
por toda a parte.
Das paredes duras vaza um mais escuro que,
imagino,
seja a água mordendo as estruturas.
A água é assim:
atiçada do céu,
infinita no mar,
nômade no chão pedregoso,
presa no fundo de um poço imenso:
a água devora tudo
com seus dentes intangíveis.
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
Água Negra na Bienal do Livro!
Amanhã, Água Negra em lançamento na Bienal do Livro, no stand da Fundação Pedro Calmon!!!
http://www.bienaldolivrodabahia.com.br/programacao_cultural/fundacao
Espero vocês lá!
Um abraço!!!
http://www.bienaldolivrodabahia.com.br/programacao_cultural/fundacao
Espero vocês lá!
Um abraço!!!
terça-feira, 11 de outubro de 2011
Anatomia
Meu corpo se dobra na curva dos dias,
as ondas passam prenhes de pássaros, peixes e maresias
o mar bebe o mundo com sua língua de onda
e meu útero permanece vazio.
Desconsolada,
engoli naufrágios inteiros
com pescadores e navios
e meus sonhos ganharam pele de peixe.
(Ando com esta barriga murcha,
recolhida no labirinto das entranhas.)
Meu útero bebeu a tinta das letras,
comeu papéis e teclas,
guardou-se debaixo do travesseiro, para o quando,
guardou-se no bolso, numa caderneta fina, para se.
Tudo vão:
Meu útero apenas ganhou guelras
e respira submerso.
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
Água foi feita para correr mesmo! - Lançamentos
Lançamento Oficial - 13 de Setembro de 2011
Xirê das Letras, Xiquexique!
No Caruru dos Sete poetas, Cachoeira - 24 de Setembro
No sarau Bem Black - 28 de Setembro, experiência super forte!
Com as MARAVILHOSAS Benilda Brito e Analu, na Galeria do Livro, 01 de Outubro
Xirê das Letras, Xiquexique!
No Caruru dos Sete poetas, Cachoeira - 24 de Setembro
No sarau Bem Black - 28 de Setembro, experiência super forte!
Com as MARAVILHOSAS Benilda Brito e Analu, na Galeria do Livro, 01 de Outubro
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
NEGRAS ODARA!
Odara é nosso olhar para o mundo, é nossa diferença e nossa busca. Odara é uma forma de compreender, de ler os muros de grafite, as pedras dos rios e as diferenças dos iguais. Odara é desmedo puro, é mergulho, é reexistência!
No dia 02 de Outubro, na Galeria do Livro (Espaço Unibanco de Cinema) três Negras Odara! se encontram para partilhar as suas travessias: Ana Lúcia Silva Souza (Analu), com Letramentos de Reexistência: poesia, grafite, música, dança: HIP-HOP. (Parábola Editorial -170pgs), aponta para a complexidade das práticas letradas que conformam a realidade brasileira e, em especial, os letramentos que envolvem a cultura hip-hop. O trabalho, que tem na tese de doutorado a sua origem, fala de uma intelectualidade gestada em territórios acadêmicos e, principalmente não acadêmicos e vemos nele uma escola contestada, mas também deslocada a favor da juventude. Falamos aqui de letramentos de reexistência em negro! Já em Flor e Rosa, um amor entre iguais (Mazza Edições - 24pgs), Benilda Brito, tomando da escrita literária, elabora um texto com desmedo, inaugurando um tempo novo. A autora sabe que a arte desconhece preconceitos, que a literatura não ignora nada que é humano. E, com cuidados, reconhece que o amor tem muitas mãos. É assim que se desenha a história de Flor e Rosa. E, finalmente, Lívia Natália com Água Negra (Prêmio Banco Capital de Poesia/2011 –74pgs) nos oferece um é um mergulho pra dentro de nós mesmas, a partir de uma escrita poética irradiada por Osun, ela escreve uma poesia de saia rodada e nos lança, indubitavelmente, da pedra que sentamos para avistar o mundo, à água, poesia maior, em mergulho arrebatador. Desse mergulho saímos pessoas apaziguadas, iluminadas. Tudo isto faz deste, um encontro de Negras Odara! No lançamento destes três livros haverá uma programação cultural para toda a família com contação de histórias, roda de palavras com poemas e crônicas, free style com MCS e Chorinho, com o Grupo Eternas Vibrações.
Sejam bem-vind@s e bem-chegad@s!
O que: Negras Odara! – Lançamento de Livros
Onde: Galeria do Livro e Arte – 2º Andar. No Espaço Unibanco de Cinema - (Praça Castro Alves, Centro – Salvador – fone 3354 0605 - estacionamento no local)
Quando: 02 de outubro de 2011 – domingo – das 15hs às 18 horas.
Quanto: Letramentos de Reexistência - R$25,00; Flor e Rosa - R$15,00; Água Negra - R$20,00 ou no “KIT ODARA!”: os três livros por R$55,00.
Com quem: As autoras, MCS, Grupo Eternas Vibrações e quem mais chegar! Chegue!
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
Água Negra no Sarau Bem black!
Agora fiquei megaemocionada! Saca lá qual é a história da coisa!!! São os dois anos do Sarau Bem Black! http://gramaticadaira.blogspot.com/
Atenção:
Próxima quarta-feira, 28 de setembro, às 19hs, lançamento de
Água Negra
no
Sarau Bem Black
(Sankofa African Bar - Pelourinho) sob a iluminada regência do grande EXU encruzilhador de caminhos, o mestre Nelson Maca!
Só alegria!!!
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
CARURU DOS SETE POETAS - SÁBADO - 24 DE SETEMBRO!!!
LANÇAMENTO DE
ÁGUA NEGRA
ÁGUA NEGRA
Caruru com gostinho de poesia, vamos recitar, comer e sambar, minha gente!!!!
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
Água Negra*
Chove muito na cidade.
No asfalto betumoso
um sangue transparente,
ora de um rubro desencarnado,
ora encardido de um cinza nebuloso,
é vomitado em cólicas
por toda a parte.
Das paredes duras vaza um mais escuro que,
imagino,
seja a água mordendo as estruturas.
A água é assim:
atiçada do céu,
infinita no mar,
nômade no chão pedregoso,
presa no fundo de um poço imenso:
a água devora tudo
com seus dentes intangíveis.
* Poema-título do livro
No asfalto betumoso
um sangue transparente,
ora de um rubro desencarnado,
ora encardido de um cinza nebuloso,
é vomitado em cólicas
por toda a parte.
Das paredes duras vaza um mais escuro que,
imagino,
seja a água mordendo as estruturas.
A água é assim:
atiçada do céu,
infinita no mar,
nômade no chão pedregoso,
presa no fundo de um poço imenso:
a água devora tudo
com seus dentes intangíveis.
* Poema-título do livro
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
Lançamento de Água Negra**
"Oriki para Osun
O rio se cala,
mas há quem não saiba
que ele é fundo."
Lívia Natália
“O canto dos segredos que habitam as saliências do rio e do mar, escutado nesse vigoroso livro, deixa como rastro na nossa alma as inquietações do mundo”
Ângela Vilma, poeta e Professora da UFRB.
Água Negra é um mergulho pra dentro de nós mesmas. Depois de séculos sendo personagem, nos tornamos senhoras de nossas histórias.
Mel Adún, poeta e Jornalista.
Água Negra foi o livro premiado pelo
Projeto de Cultura e Arte do Banco Capital,
categoria poesia, no ano de 2011.
**13.09.2011 - Lançamento oficial no Solar Cunha Guedes, no Corredor da Vitória, pelo X Prêmio Banco Capital de Cultura e Arte. Para convidados.
quinta-feira, 16 de junho de 2011
Sina
Todo mês eu sangro.
Diversa de mim,
atravesso águas brutas,
oceanos que me povoam bravios.
Expulso o que em mim excede
e do que sobra,
algo se move lívido
pulsando nas sendas de meu ventre.
Quando sangro,
o animal onde moro troca de pele
por dentro,
expurgando entranhas.
Todo mês eu sangro.
Todo mês eu singro este mar,
em que me banho.
Diversa de mim,
atravesso águas brutas,
oceanos que me povoam bravios.
Expulso o que em mim excede
e do que sobra,
algo se move lívido
pulsando nas sendas de meu ventre.
Quando sangro,
o animal onde moro troca de pele
por dentro,
expurgando entranhas.
Todo mês eu sangro.
Todo mês eu singro este mar,
em que me banho.
segunda-feira, 23 de maio de 2011
Buscância
Precisam-se de estrelas que brilhem nos vãos do corpo,
que poluam com seu branco luminoso
a dobra opaca de que toda sou.
Paga-se bem:
em fartas moedas de silêncio,
com dores sem cura,
com sangue duro e vivo de entranhas.
Preciso de alguma luz estranha e calma.
D'algum clarão alvo e verdadeiro.
Algo que negue este estreito
onde moro em solidão.
que poluam com seu branco luminoso
a dobra opaca de que toda sou.
Paga-se bem:
em fartas moedas de silêncio,
com dores sem cura,
com sangue duro e vivo de entranhas.
Preciso de alguma luz estranha e calma.
D'algum clarão alvo e verdadeiro.
Algo que negue este estreito
onde moro em solidão.
segunda-feira, 25 de abril de 2011
Sem adereços
Nem tudo o que dói,
que come de olhos despertos meu sangue,
por dentro,
pisado e grosso.
Nem tudo o que grito,
ou calo,
nem tudo que cabe no baú de meus tristes guardados.
Nem tudo o que choro
pode ser
transmutado
em poesia.
que come de olhos despertos meu sangue,
por dentro,
pisado e grosso.
Nem tudo o que grito,
ou calo,
nem tudo que cabe no baú de meus tristes guardados.
Nem tudo o que choro
pode ser
transmutado
em poesia.
quinta-feira, 3 de março de 2011
A mulher e os ratos
Ao miserável do Freud,
que me leu antes de mim.
Amo os meus sintomas
como quem ama mais os anéis
que os próprios dedos.
que me leu antes de mim.
Amo os meus sintomas
como quem ama mais os anéis
que os próprios dedos.
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
Alcova
Meu corpo é todo sendas.
Nelas não caminho,
tomo atalhos.
Afinal,
pode o oceano beber-se todo
em cada gota sua?
Nelas não caminho,
tomo atalhos.
Afinal,
pode o oceano beber-se todo
em cada gota sua?
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
Temperança derrotada
Passaram as primaveras
e as pétalas adormeceram em seu perfume inútil.
Nenhuma mão as cingiu delicada.
Nenhuma lâmina bravia acordou seu sumo.
Nem laivo de sua sombra,
apenas a dor da beleza não colhida.
Finalmente
foi-se o perigo da felicidade:
passaram as primaveras e sua angústia exausta.
e as pétalas adormeceram em seu perfume inútil.
Nenhuma mão as cingiu delicada.
Nenhuma lâmina bravia acordou seu sumo.
Nem laivo de sua sombra,
apenas a dor da beleza não colhida.
Finalmente
foi-se o perigo da felicidade:
passaram as primaveras e sua angústia exausta.
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